sábado, 5 de outubro de 2013

Labirintos da memória...


Como já referi, fui um miúdo que cresceu na rua entre casas de amigos, campos de milho, uvas, futebol, fisgas no bolso, época do pião, do berlinde, da carica, de tantas coisas que nos reconfortam quando as recordamos. Eram momentos particulares e com uma sensação de liberdade tremenda. Hoje parece quase um sonho, quando imaginamos que nessa infância acordávamos sem horas e rumo, ao som de um amigo que nos chamava para jogar à bola, para ir até ao rio ou simplesmente conversar. Não deixava de existir drama...formavam-se grupos de bairro, jogava-se às copas com as respectivas "orelhadas", o jogo doloroso do garrafão e as lutas de rua...sempre provocadas por...todos!

Eu tenho a vantagem de comparar dois períodos distintos: um que se assemelhava à infância do meu pai e avós...o outro, o advento da tecnologia, dos tempos modernos. Surgiram as televisões a cores com comando, os vídeo gravadores beta, VHS, depois os CD's, entretanto o Timex, o famoso Spectrum 48k e o gravador com um ruído que poderia nem sempre resultar na instalação do jogo. Esse período levou a uma diminução gradual do convívio com os amigos...mais tempo em casa. 
No passado, os únicos momentos que nos interrompiam eram a voz da mãe a chamar para casa e o Verão Azul.

Hoje olho para a minha filha e sinto pena por ela. O mundo que vive é muito circunscrito e temo por isso. Tenho a certeza que nós, os pais, nos tornamos obsessivos em questões de segurança. Se por um lado protegemos os nossos rebentos, penso frequentemente no tipo de personalidades que estaremos a criar no futuro. 

Quando era criança, adorava estar fora e poucas vezes tinha saudades de casa. Fazia férias com os meus avós e nunca queria voltar, ao ponto de permanecer na semana do meu irmão e do meu primo...ficava todo o período de férias. Mas recordo que o meu irmão queria voltar e chorava. Certamente que lidamos com feitios, mas o prazer de estar fora, de "liberdade" é incomensurável...ainda hoje sinto essa sensação entranhada em mim.

- Pai, pai, pai, vens brincar comigo, vens?

- Mas filha, não queres brincar sozinha?

- Não papá, quero brincar contigo.

Hoje ouvi uma estatística que referia o facto de 70% das crianças preferirem brincar com os pais a ver televisão. Muita gente comentou, surpreendida, o número elevado da estatística. Surpreendida porque os pais "empurram" os filhos para as televisões e computadores, no desespero de algum tempo para eles, nesta sociedade a mil à hora...Estes números seriam uma surpresa para mim antes da paternidade. Agora não, pelo menos com a minha experiência. E não há nada melhor do que brincar com os pais nesta idade do "faz de conta", de sentir o seu carinho e protecção, já que, nestes tempos e cidade, a minha pirralha não pode andar de bicicleta em direcção ao rio, com o cabelo ao vento e a sensação do sol na pele...e o riso dos amigos em grupo, com a merenda a tiracolo e uma felicidade sem limite!


Pergunta: o que fazer quando temos saudades da nossa infância?

Resposta: seguir este link...

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