Hoje foi um regresso tranquilo a casa, apesar do dia agitado, de muita água a desabar do céu e um cinzento tão cinzento como só recordo na Irlanda. A minha princesa esteve nos avós e brincou bastante enquanto eu deambulava no médico e fiquei na espectativa de que quebrasse de cansaço....mas não quebrou...aliás, ainda brinca à minha frente com a mãe em construções de plasticina.
Mas a plasticina tem uma razão de ser. Hoje, antecipando um caos no trânsito da cidade, fui buscar a minha menina ao infantário. Olhei-a do vidro da porta da sala dos "planetas" e, pela primeira vez nestes poucos anos, ela não sorriu...chorou e disse-me:
- papá, agora não que vou brincar com plasticina!
Pois é. Cheguei mesmo no preciso instante em que ela tinha pedido à educadora para brincar com plasticina.
- Filha, o pai promete que brincamos em casa.
- Está bem papá... - disse naquele som que morre num beicinho delicioso!
Lá a convenci e não me esqueci de comprar a plasticina ao sair do médico.
No regresso a casa, a mãe estava a prepara o banho. Foi mais uma negociação difícil, mas resultou.
Entretanto, a cena do ciúme do pai repete-se...nesta idade é assim, mas eu não alimento o meu lado como alguns pais babados que conheço e não deixo de recriminar.
- Papá, não gosto da mamã...- diz a pirralha enquanto a mãe a limpa.
- Mas não gostas porquê?
- Gosto do papá!
- Mas eu não gosto de ti quando dizes que não gostas da mamã...por isso, vou sair.
- Papá, papá, está contente? - responde numa tentativa de sorriso.
- Não, não estou. Que patetice é essa de não gostar da mãe?
Nesse momento fui para a cozinha e ouço a voz dela:
- Gosto de ti mamã...papá, ouviste...mamã, gosto de ti. - não respondi e voltei a ouvir:
- O papá não fala...oh!
Fui novamente ao quarto e ela sorriu:
- Já está contente papá?
- Agora sim, já estou...
A cena fechou num abraço apertado e beijos a três. Olhei a mãe e sorrimos. Ao sair da sala, estala o verniz:
- Papá, já está contente? podemos fazer plasticina, podemos?
É uma capacidade extraordinária que só o sexo feminino possui nesta tenra idade...a arte de "dar a volta" de uma maneira magistral.
Pergunta: O que fazer quando a nossa filha enceta uma negociação connosco?
Resposta: Vistam o vosso fato e gravata e encarem-na como um cliente da empresa onde trabalham.
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