Para mim as manhãs são sempre duras…muito duras. O meu relógio
biológico é mesmo assim. Começo lentamente, num estado de letargia, mas
eficiente. Tomo banho em transe, corto a barba como se a lâmina tivesse vida
própria, bebo água para purificar e…continua tudo igual.
Por volta das 10h da
manhã, o meu cérebro começa a dar sinais de vida “racional”…já estrutura alguns
raciocínios complexos, já começa a ter vontade própria. Ao longo do dia essa actividade
cerebral vai aumentando até atingir o pico por volta das 23h. Aí, com o clã
feminino a dormir, ele continua activo e nesse momento parece sorrir…estás
sozinho e podes dar largas à imaginação. Depois apaga-se lentamente, por volta
das 2 ou 3 da manhã. É a realidade.
Um destes dias, a minha filha, que geneticamente parece ter
herdado esta minha tendência, mas com a variante extremamente positiva de
acordar a sorrir, fruto dos genes da mãe, teimou, como sempre, em não dormir.
- Filha, já é tarde. São horas de dormir!
- Mas eu não quero. Vamos brincar…
- Amanhã brincamos. Pode ser?
- Não…quero agora! (determinada, esta catraia).
Solto um berro, coisa que raramente acontece para ser
eficaz, rebentam lágrima e ranho, quebra-se silenciosamente o meu coração, mas
mantém-se a decisão.
Já com ela na cama e mais sossegada, tento explicar a
necessidade de dormir. Ela parecia muito atenta, o que me incentivou a um discurso
mais longo. O silêncio que se fez sentir deixou-me com a impressão de que tinha
adormecido finalmente…de cansaço.
Num movimento leve de anca, tento erguer-me para sair do
quarto, quando ouço:
- Isso não é importante!
Pergunta: O que fazer quando a nossa filha argumenta com determinação?
Resposta: Anotamos os argumentos, lemos artigos científicos, fazemos apontamentos, marcamos hora com ela para futuro debate...
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