sexta-feira, 7 de março de 2014

A dor...


Hoje, aliás ontem, no dia em que o meu pai fez anos, acordei de um pesadelo. Eu tinha falecido e o meu corpo estava inerte e eu a observá-lo. Nessa angústia, o que mais me deixou amargurado, foi ver a minha filha a chorar…ela já era mais crescida e percebia o que se estava a passar…e eu não conseguia comunicar com ela.
Vi a dor dela espelhada no meu sonho. Vi, como sempre, a dor de não conseguir proteger…mas isso é impossível e nunca o poderemos ter plenamente, ainda que o quiséssemos.
Recordei o grande Torga e o poema que ele escreveu quando a mãe faleceu:




Mãe: 
Que desgraça na vida aconteceu, 
Que ficaste insensível e gelada? 
Que todo o teu perfil se endureceu 
Numa linha severa e desenhada? 

Como as estátuas, que são gente nossa 
Cansada de palavras e ternura, 
Assim tu me pareces no teu leito. 
Presença cinzelada em pedra dura, 
Que não tem coração dentro do peito. 

Chamo aos gritos por ti — não me respondes. 
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio. 
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes 
Por detrás do terror deste vazio. 

Mãe: 
Abre os olhos ao menos, diz que sim! 
Diz que me vês ainda, que me queres. 
Que és a eterna mulher entre as mulheres. 
Que nem a morte te afastou de mim! 


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