domingo, 1 de dezembro de 2013

Pai, já não és o meu herói!


A ligação entre um pai e uma filha é única e indescritível. Não há dúvida alguma que essa relação permanece ao longo de milénios e deixa-nos, a nós pais, sem palavras em muitos e muitos momentos. Acredito que permanecerá mesmo com o inevitável cavalgar do tempo.
A minha filha foi construindo, ao longo dos seus curtos dois anos e meio, uma imagem de pai herói. Certamente que essa ideia foi cimentada no facto de eu estar mais presente do que a mãe, por força das circunstâncias profissionais. E há uma natural ligação entre pai e filha que nos limita. Senão vejamos: entre dar uma palmada num catraio ou numa menina (bem sei que já condicionei a perspectiva do leitor!) qual a posição de um homem? Eles põem-se a jeito, naquela natural patetice e elas, nas suas danças da “cabeça inclinada”, beicinho, mãozinhas nos joelhos e olhar descaído, não nos dão qualquer hipótese!

Hoje a minha filha teve a sua primeira experiência com a Wii. Como qualquer novidade, o momento foi eufórico, acompanhado de gritos e corridas, sorrisos e palavras de clara boa disposição.
Enquanto eu conversava com avô materno num final de almoço bem dominical e regado, senti a minha menina aproximar-se com um olhar desiludido. Eu estava, até ao momento, tranquilo porque ouvia-a sorrir e alegre, por isso, avancei para uma aguardente velha e apoteótica…estava como gosto de estar…tranquilo. Mas a mão dela trazia ansiedade e o diálogo foi curto:

- Papá, eles não me deixam jogar!

Acontece que a avó, mãe e tio estavam a partilhar os comandos, e o facto de ela deixar de ter um único e exclusivo comando, revelou-se um atentado à sua identidade de princesa. Mas é bom que ela vá caindo do patamar da realeza e sinta o mundo “real”.

- Filha, isso é normal. Temos que partilhar as coisas.

O avô e eu abandonámos o “Ramos Pinto” e avançámos rumo à Wii. O avô levava o mote: mas, afinal, quem não deixa a menina jogar! Se não é o pai, são os avôs…malditos sexos!
Ela tinha aprendido uma nova palavra: “strike” e estava a gostar. Voltou ao momento da ribalta e assumiu outra vez o comando. A mãe ajudou a tentar um novo strike e quase conseguiu, mas baralhou as ideia com uma nova palavra “spare”. Ok…é bom porque deitou tudo a baixo…já perceberam que estavam a jogar Bowling.
Até que ela voltou a ficar triste e acomodou-se no sofá e na posição “beicinho 2”…o pai, eu, entrou no nível “protecção” e avançou.

- Filha, o pai vai ajudar.

- Vais?

E caminhámos rumo ao comando, à Wii, à sala, à televisão e aos adversários. O pai “ajudou”, mas não “derrubou”…e o olhar dela foi de tamanha desilusão, que até me fez sentir...normal…como se eu não fosse.

- Filha, o pai também falha! É normal falhar…

Pois é, mas aquele olhar dizia tudo…afinal, já não és o meu herói! 

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