A ligação entre um pai e uma filha é única e indescritível.
Não há dúvida alguma que essa relação permanece ao longo de milénios e
deixa-nos, a nós pais, sem palavras em muitos e muitos momentos. Acredito que
permanecerá mesmo com o inevitável cavalgar do tempo.
A minha filha foi construindo, ao longo dos seus curtos dois anos e meio, uma imagem de pai herói. Certamente que essa ideia foi cimentada
no facto de eu estar mais presente do que a mãe, por força das circunstâncias
profissionais. E há uma natural ligação entre pai e filha que nos limita. Senão
vejamos: entre dar uma palmada num catraio ou numa menina (bem sei que já
condicionei a perspectiva do leitor!) qual a posição de um homem? Eles põem-se
a jeito, naquela natural patetice e elas, nas suas danças da “cabeça inclinada”,
beicinho, mãozinhas nos joelhos e olhar descaído, não nos dão qualquer
hipótese!
Hoje a minha filha teve a sua primeira experiência com a
Wii. Como qualquer novidade, o momento foi eufórico, acompanhado de gritos e
corridas, sorrisos e palavras de clara boa disposição.
Enquanto eu conversava com avô materno num final de almoço
bem dominical e regado, senti a minha menina aproximar-se com um olhar
desiludido. Eu estava, até ao momento, tranquilo porque ouvia-a sorrir e
alegre, por isso, avancei para uma aguardente velha e apoteótica…estava como
gosto de estar…tranquilo. Mas a mão dela trazia ansiedade e o diálogo foi curto:
- Papá, eles não me deixam jogar!
Acontece que a avó, mãe e tio estavam a partilhar os
comandos, e o facto de ela deixar de ter um único e exclusivo comando,
revelou-se um atentado à sua identidade de princesa. Mas é bom que ela vá
caindo do patamar da realeza e sinta o mundo “real”.
- Filha, isso é normal. Temos que partilhar as coisas.
O avô e eu abandonámos o “Ramos Pinto” e avançámos rumo à Wii. O avô levava o mote: mas, afinal, quem não deixa a menina jogar! Se não é
o pai, são os avôs…malditos sexos!
Ela tinha aprendido uma nova palavra: “strike” e estava a
gostar. Voltou ao momento da ribalta e assumiu outra vez o comando. A mãe
ajudou a tentar um novo strike e quase conseguiu, mas baralhou as ideia com uma
nova palavra “spare”. Ok…é bom porque deitou tudo a baixo…já perceberam que
estavam a jogar Bowling.
Até que ela voltou a ficar triste e acomodou-se no sofá e na
posição “beicinho 2”…o pai, eu, entrou no nível “protecção” e avançou.
- Filha, o pai vai ajudar.
- Vais?
E caminhámos rumo ao comando, à Wii, à sala, à televisão e aos adversários. O pai “ajudou”, mas não “derrubou”…e o olhar dela foi de
tamanha desilusão, que até me fez sentir...normal…como se eu não fosse.
- Filha, o pai também falha! É normal falhar…
Pois é, mas aquele olhar dizia tudo…afinal, já não és o meu herói!
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