Por vezes tenho a ânsia de passar todos os meus princípios e
conhecimentos para a minha filha. Essa ânsia é fruto do meu drama interior,
porque sinto que o tempo é precioso e que hoje não o valorizamos como devíamos.
Sinto a ânsia aumentar à medida que a minha filha se desenvolve e comunga
sensações e formula juízos, ideias, emoções. Ainda qua faça xixi de vez em
quando e use fralda para dormir, já é um ser na formação da sua personalidade e
na vontade de opinar. Para muitos pais, passará esta etapa pela rama. Para mim,
é tudo. Apenas posso sugerir que não o façam, que não desperdicem o momento.
Não tenho saudades dos tempos passados de berços, fraldas, biberões
e gugu dádá…não tenho mesmo. Apenas recordo o momento de a adormecer no meu
peito e sentir o seu cheiro imaculado…nada como o cheiro da pele de um bébé. O
resto é para esquecer. Mas nesta fase dos dois anos e meio, há uma imensa torrente de experiências
diárias que são complexas e que nos saem do corpo. O pai regressa do dia de
trabalho, cansado, desiludido ou não, e quer, convenhamos, um copo de tinto na
mão, o comando da televisão na outra e a notícias de que a filha já adormeceu…pois
meus amigos…não é assim. Agora é que vale a pena investir tempo na partilha de
emoções, de jogos de ideias e de pensamentos. Vejo-me todos os dias a conversar
com a minha filha como se ela tivesse mais idade do que tem. Mas faço este
exercício desde que a ia buscar ao infantário com poucos meses…
Ontem começámos a ser bombardeados por notícias sobre a
morte de Nelson Mandela. O bombardear, neste caso específico, não tem um
sentido pejorativo. Para mim foi a figura do século XX. Porquê? Porque ensinou
ao mundo que não vale a pena o ódio pelo próximo. Porque nos ensinou que é
possível perdoar quem nos tratou muito mal…e é tão difícil…mesmo tão difícil
proceder assim.
Hoje falei com a minha filha sobre Madiba…não me interessa
se reteve ou não as ideias e palavras. Tenho a certeza que percebeu que, para
mim, foi um momento especial. Tenho a certeza que percebeu que o respeito pelo
próximo passa por nos respeitarmos e aceitarmos como somos…e estarmos equilibrados
na felicidade de viver quando tudo parece tão difícil.
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