Tenho momentos em que odeio o mundo em que vivemos pela
simples forma como o maculamos diariamente…mas há dias em
que a natureza nos carrega ao limite da felicidade e desejamos, profundamente,
aí permanecer. Esses dias são raros no actual quotidiano. Talvez porque raros,
são para mim extraordinariamente valorizados.
Quando somo pais, desejamos que os nossos filhos permaneçam
no lado da felicidade e muito distantes do mundo que odiamos. É legítimo pensar
assim, mas não é prático. Isto porque se os protegermos sempre, jamais saberão
proteger-se e jamais saberão dar valor aos dias felizes.
Hoje, ao regressar do infantário, a minha filha perguntou-me
porque parei para dar uma moeda a um senhor que pedia no semáforo. É muito
difícil explicar a uma menina de dois anos e meio o nosso gesto. Como somos pais
ansiosos de passar mensagens e educar dentro do que achamos correcto,
procuramos rapidamente uma resposta que caiba dentro desses parâmetros:
- Pai, porque deste uma moeda ao senhor?
Desgraçadamente não consegui proferir uma palavra. Arranquei na angústia do
verde e desejei que o momento ficasse por ali, mas não ficou:
- Pai, pai, porque deste uma moeda ao senhor?
Silêncio…como a vida exige em muitos momento e como sabe bem…mas não neste dia:
- Pai, porquê?
O nosso cérebro é de facto extraordinário…enquanto executa
as mais elementares tarefas, como meter uma velocidade, acelerar, virar, olhar
o semáforo, a mulher que atravessa a rua…aprimoramos a resposta que
consideramos mais adequada:
- Filha, gostas de comer chocolates?
- Sim, papá!
- O senhor queria comer chocolates e não podia comprar…e eu
dei-lhe dinheiro para comprar.
Esperava uma resposta do género…e eu? Não tenho chocolates? Mas
ouvi:
- Papá, o senhor sorriu para mim!
Pergunta: o que fazer quando a nossa filha faz um pergunta sem resposta?
Resposta: ...
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