terça-feira, 26 de novembro de 2013

Dias de cão


Tenho momentos em que odeio o mundo em que vivemos pela simples forma como o maculamos diariamente…mas há dias em que a natureza nos carrega ao limite da felicidade e desejamos, profundamente, aí permanecer. Esses dias são raros no actual quotidiano. Talvez porque raros, são para mim extraordinariamente valorizados.
Quando somo pais, desejamos que os nossos filhos permaneçam no lado da felicidade e muito distantes do mundo que odiamos. É legítimo pensar assim, mas não é prático. Isto porque se os protegermos sempre, jamais saberão proteger-se e jamais saberão dar valor aos dias felizes.

Hoje, ao regressar do infantário, a minha filha perguntou-me porque parei para dar uma moeda a um senhor que pedia no semáforo. É muito difícil explicar a uma menina de dois anos e meio o nosso gesto. Como somos pais ansiosos de passar mensagens e educar dentro do que achamos correcto, procuramos rapidamente uma resposta que caiba dentro desses parâmetros:

- Pai, porque deste uma moeda ao senhor?

Desgraçadamente não consegui proferir uma palavra. Arranquei na angústia do verde e desejei que o momento ficasse por ali, mas não ficou:

- Pai, pai, porque deste uma moeda ao senhor?

Silêncio…como a vida exige em muitos momento e como sabe bem…mas não neste dia:

- Pai, porquê?

O nosso cérebro é de facto extraordinário…enquanto executa as mais elementares tarefas, como meter uma velocidade, acelerar, virar, olhar o semáforo, a mulher que atravessa a rua…aprimoramos a resposta que consideramos mais adequada:

- Filha, gostas de comer chocolates?

- Sim, papá!

- O senhor queria comer chocolates e não podia comprar…e eu dei-lhe dinheiro para comprar.

Esperava uma resposta do género…e eu? Não tenho chocolates? Mas ouvi:

- Papá, o senhor sorriu para mim!

Pergunta: o que fazer quando a nossa filha faz um pergunta sem resposta?

Resposta: ...

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