Sou terrivelmente insatisfeito. Desde que me conheço que sou
assim, absurdamente insatisfeito. Consegui sobreviver a esta sensação fazendo o
máximo de actividades, sempre diferentes e aprendendo a cada dia que passava.
Sempre fiquei com a certeza de que se aprendesse algo diferente todos os dias,
acabaria a minha vida terrena mais completo. E continuo a pensar assim…mas com
menos tempo para mim.
A vida é perfeita na sua imperfeição. Nós é que muitas
vezes não estamos minimamente atentos a nada, nem damos importância a simples
momentos. Eu falo com a certeza destas palavras que escrevo, porque sou um dos
que ignora muitas vezes os sinais que a vida nos dá.
Mas hoje, enquanto estava deitado ao lado da minha filha, a ver desenhos animados na televisão, senti como podemos atingir a
felicidade com tão pouco, quando queremos tanto. A mão dela deslizava
lentamente na palma da minha mão. Aqueles pequenos dedos, ainda mais pequenos
na proporcionalidade, numa cumplicidade e ternura, deixaram-me
profundamente relaxado e feliz. E quanto me comoveu e quanto me revoltou, por
não saber gerir a minha insatisfação diária, quando talvez precise de tão pouco, que já é por si tanto…